Letras Escarlates | Anne Bishop | Opinião

By Vera Carregueira - 16:59

Meg é uma profetisa de sangue. Sempre que a sua pele é cortada, ela tem uma visão do futuro – um dom que mais lhe parece uma maldição. O Controlador de Meg mantém-na aprisionada de forma a ter acesso total às suas visões. Quando finalmente ela consegue escapar, o único sítio seguro para se esconder é no Pátio de Lakeside – uma zona controlada pelos Outros.

O metamorfo Simon Wolfgard sente alguma relutância em contratar a estranha que lhe pede trabalho. Sente que ela esconde algo e, para além disso, ela não lhe cheira a uma presa humana. Algo no seu íntimo leva-o a contratá-la, mas ao descobrir quem a jovem realmente é e que o governo a procura, ele terá de tomar uma decisão. Será que proteger Meg é mais importante do que evitar o confronto que se avizinha entre humanos e Outros?
 Sempre ouvi dizer que Anne Bishop é uma autora fantástica, o problema é que durante muito tempo não consegui entrar no mundo da fantasia épica, bem que tentei mas não me atraía porque achava a criação de mundo algo de estranho e complicado. Sim eu sei, ou tola, não me batam mais. Então quando soube que a autora tinha uma nova série mas de fantasia urbana pensei que seria agora que iria ler algo dela. As expectativas eram altíssimas por isso tinha algum receio de por algum motivo não gostar. Quando fiz o passatempo aqui no blog tive de ler o excerto de 52 páginas disponibilizado no site da editora para poder fazer as perguntas e fiquei logo "vidrada", adorei aquilo que estava à minha frente se tivesse ali o livro na altura tê-lo-ia "devorado" mas o livro demorou mês e meio a chegar e depois já tinha perdido alguma daquela ansiedade inicial.

Depois de ter chegado andei uns dias a olhar para ele, lia um parágrafo e parava, até que resolvi voltar tudo atrás e ler do inicio e foi assim que as 512 páginas foram consumidas entre sábado à tarde e domingo à noite, não o conseguia largar e não consigo apontar defeitos de tão fabuloso que foi.

Antes de mais o mundo que Bishop criou é muito parecido ao nosso, percebemos que a acção se centra numa grande cidade com recursos idênticos aos que temos mas depois temos os Outros que são criaturas sobrenaturais que assombrosas, transmorfos, vampiros e elementais que não só não se escondem como dominam o mundo, vivendo os seres humanos no limite entre o medo e a tentativa de paz. Este mundo é espectacularmente brutal, tão bem construído que conseguimos perceber que a autora é mestre no que faz.

E os personagens? Finalmente um livro em que os "monstros" não nos vêem romanticamente mas como presas, carne a ser consumida caso algum humano se "arme em espertinho" ou os ameace. Os humanos são presas, cheiram a presas e vivem em paz unicamente por uma questão de utilidade, oferecem recursos em troca de aprenderem coisas que só os humanos lhes podem oferecer. Os Outros consideram-se seres superiores e são predadores ferozes apelidando os humanos de macacos. Porém todas as personagens apresentadas, apesar da sua ferocidade têm um grande sentimento de fidelidade entre si, uma amizade forte, uma união impar. Percebemos ao longo da leitura que há uma disputa pelo lugar cimeiro na cadeia alimentar mas com um forte receio da parte humana porque convenhamos os Outros são assustadores.

Meg é uma personagem fascinante, podemos ver que desabrocha ao longo da narrativa, a pequena ingénua, desconhecedora do mundo dá lugar a uma mulher determinada e vemos a forma como conquista todos no Pátio com a sua genuinidade e inocência. É o género de personagem que nos cativa do inicio ao fim, queremos saber tudo sobre ela e vê-la enfrentar de cabeça erguida as adversidades.

Simon é um lobo intrigante, as suas acções são a de um predador completamente confuso pelas acções de uma presa que não cheira a presa, gostei tanto dele, da força da sua liderança, do cuidado e preocupação com Sam e a protecção que oferece a Meg e que se vai tornando mais acentuada à medida que a acção avança ao ponto de deixar de ser a humana Intermediária para passar a ser um deles.

Gostei igualmente das personagens secundárias, principalmente os Outros Tess, Vlad, Harry e Nathan e o policia humano Monty tendo este último sido crucial nas relações entre ambas as raças.

Conseguimos ter um vislumbre de um romance a despontar entre Simon e Meg principalmente da parte do lobo mas adorei o facto de a acção não se centrar tanto numa relação amorosa mas em tudo o resto. Com muita acção e acontecimentos interessantes alternados com pequenas descrições que nos ajudam a perceber melhor este mundo somos sugados para dentro do livro. Neste ponto tenho de confessar que estava a fazer o almoço de domingo e sentei-me na cozinha a ler enquanto esperava que ficasse pronto, quando levantei os olhos do livro até fiquei um pouco desnorteada, conseguia visualizar este mundo de forma tão nítida na minha cabeça que esperava ver o Pátio em vez da minha cozinha.

Estou completamente rendida a Anne Bishop, o enredo está tão bem construído que é impossível apontar-lhes falhas, as personagens são apaixonantes fazem-nos vibrar, a escrita é maravilhosa torna a leitura fluída e rápida. Não tive qualquer problemas a entrar neste mundo como por vezes pode acontecer e isso é um ponto positivo. 

Apesar de não ser fã da nossa capa acho-a francamente melhor que a original e gostei imenso das primeiras e últimas páginas com as folhas pretas e os desenhos, os nomes dos estabelecimentos e dos dias da semana foram traduzidos quase literalmente e apesar de nem sempre soar bem acabamos por nos habituar e entender as escolhas da editora, encontrei apenas uma única gralha o que num livro de 512 páginas quer dizer muito, não sei precisar onde está mas é a troca de um x por um z, é algo muito pequeno que demonstra um excelente trabalho por parte da editora (tenho visto muitas queixas referentes a gralhas e erros e ainda a problemas de tradução por isso acho que este livro está quase perfeito).

Deixo o pedido à Saída de Emergência que publique "depressinha" o segundo livro da série Murder of Crows porque estou desejosa de saber mais sobre este mundo extraordinário.



Este livro foi gentilmente cedido pela Edições Saída de Emergência em troca de uma opinião honesta.

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1 comentários

  1. Os primeiros livros de Anne Bishop que eu tive a oportunidade de ler fazem parte da trilogia "Os Pilares do Mundo" (graças a Deus que existem bibliotecas). Quando os vi pela primeira vez, senti uma vontade incontrolável de os requisitar e viajar, pela primeira vez, pelo mundo da fantasia. Não perdi tempo e fi-lo.
    Embora os tenha lido numa época em que os trabalhos escolares e os testes estavam em alta, eu só sei que os devorei sem perder tempo...
    Mas a trilogia que eu idolatro até agora é a da "Jóias Negras"... As personagens, o enredo, a ação, tudo aquilo captou a minha atenção...
    Eu ainda não tive a oportunidade de ler "Letras Escarlates", mas se gostaste da forma como Anne Bishop escreve, aconselho vivamente, a leitura de as "Jóias Negras".

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